O projeto “Biodiversidade, população e economia” resultou do trabalho coletivo de vários pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele é fruto de um amplo esforço de cooperação de várias unidades acadêmicas da UFMG, lideradas pelos Programas de Pós-Graduação em Economia e Demografia, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), e de Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB).
O Programa de Ensino e Pesquisa proposto buscou tanto contemplar aspectos teórico-metodológicos, por meio da montagem de uma metodologia de estudos ambientais interdisciplinar e a formação de recursos humanos, quanto contribuir para a elaboração de propostas de intervenção ambiental mediante variados instrumentos. O que se tem aqui é uma síntese de um programa que concorreu ao Edital de 1990 do PADCT/CIAMB, o qual pretendia valorizar propostas que contemplassem atividades de ensino de pós-graduação e pesquisa e que abordassem as questões ambientais a partir de perspectiva interdisciplinar. Essa postura, slot online central para os objetivos propostos pelo CIAMB, define uma filosofia, uma compreensão da questão ambiental como realidade global, que exigia, por isso mesmo, instrumentos analíticos, metodologias e procedimentos necessariamente globalizantes. Tratava-se, assim, de incorporar não só as dimensões bióticas e abióticas da realidade ambiental, como também mobilizar as diversas ciências sociais, físicas e biológicas, no enfrentamento da questão ambiental contemporânea.
Tais pressupostos-exigências do Edital catalisaram um processo de interação já existente entre grupos de pesquisa e de pós-graduação da UFMG, resultando daí uma proposta classificada em primeiro lugar entre as quatro aprovadas.
Dois foram os pontos de partida que informaram a proposta apresentada:
- a constatação da gravidade e importância da questão ambiental, sua centralidade e complexidade, e suas amplas repercussões sobre a globalidade da vida no planeta;
- a constatação de que o enfrentamento crítico-prático da questão terá, necessariamente, que transcender as perspectivas unilaterais e buscar efetiva interdisciplinaridade.
Com base nisso, definiu-se um conjunto de objetivos gerais, que, desdobra-dos em objetivos específicos, podem ser assim sintetizados:
- formação de novas mentalidades e de instrumentos analíticos na abordagem da questão ambiental a partir da uma perspectiva globalizante, isto é, que contemple as dimensões físicas, bióticas e antrópicas da realidade ambiental, mobilizando para isso, num todo organizado, disciplinas tanto do campo das chamadas Ciências Sociais, quanto do campo das Ciências Físicas e Biológicas;
- montagem de metodologia de estudos ambientais que materialize as proposições referentes à necessidade de interdisciplinaridade dos instrumentos e globalidade do objeto;
- elaboração de um conjunto de propostas de políticas e intervenções que contribua para minorar-corrigir-controlar problemas ambientais da região objeto da pesquisa.
Escolheu-se como área básica objeto da pesquisa uma região da bacia do Rio Doce, em Minas Gerais. A escolha obedeceu a três ordens de motivações:
- por tratar-se de região que foi coberta por amplas extensões de Mata Atlântica até o início deste século, experimentando, a partir daí, acentuado processo de devastação, fruto de intervenções antrópicas. Nesse sentido, além de sua pertinência específica, a compreensão da situação atual de trecho da bacia do Rio Doce oferecerá subsídios para prevenir processos ainda passíveis de correção, como os que são impostos hoje à Amazônia;
- por tratar-se de região detentora de uma complexidade ambiental ímpar, abrigando um conjunto de realidades físico-biótico-antrópicas que sintetizam vários dos principais processos e impasses ecológicos e sociais brasileiros;
- por ser região relativamente bem investigada, tendo merecido estudos recentes e aprofundados, sobretudo sobre a realidade hidrológica, o que facilitaria comparações e construção de base de dados abrangente.
Equipe de coordenação
- João Antônio de Paula (Coordenação Geral)
- Alexandre Godinho
- André Caetano Junqueira
- Cláudio B. Guerra
- Eduardo Luiz Gonçalves Rios Neto
- Fausto R. Alves de Brito
- Francisco Antônio R. Barbosa
- Gustavo A. B. da Fonseca
- Roberto Luís de M. Monte-Mór
- Sérgio E. B. Lins
- Valdemar Servilha
Equipe de pesquisadores
- Alessandra V. Reis
- Alexandre A. Oliveira
- Alisson Flávio Barbieri
- Ana Maria Hermeto Camilo de Oliveira
- André C. Junqueira
- André Hirsch
- Anthony B. Rylands
- Ariaster B. Chimeli
- Carlos Eduardo da Gama Torres
- Carlos Eduardo V. Grelle
- Cláudio B. Guerra
- Cláudio Scliar
- Denise J. Domingos
- Dorival Mata-Machado
- Eduardo Junqueira Coelho
- Eduardo M. de M. e Souza
- Elena Charlotte Landau
- Fábio Vieira
- Fausto R. A. Brito
- Francisco A. R. Barbosa
- Geraldo W. Fernandes
- Germana de Paula C. P. Renault
- Gustavo A. B. Fonseca
- Haroldo da Gama Torres
- Heloisa S. Moura Costa
- Hugo Godinho
- João Bosco Guimarães
- João Júlio V. Amaro
- João Renato Stehmann
- Leonardo V. C. e Silva
- Leonardo P. Guerra
- Leonora Pires Costa
- Liliane Resende
- Luiz Antônio Rocha
- Magna Figueiredo
- Mairy B. L. dos Santos
- Marcelo Pinho
- Maria das Graças Lins Brandão
- Maria Regina Nabuco
- Marise da S. Theresa
- Michael B. Ullman
- Millor Godoy Sabará
- Mônica Tavares da Fonseca
- Paulina Maia-Barbosa
- Renata O. de O. Abdo
- Ricardo Bomfim Machado
- Ricardo Machado Ruiz
- Roberto Luís M. Monte-Mór
- Rodrigo F. Simões
- Sandra M. Oberdá
- Sérgio Camargo
- Sérgio E. B. Lins
- Sheila Maria de C. M. Bicalho
- Sueli A. Mingoti
- Tânia Moreira Braga
- Terezinha Abreu Gontijo
- Vanja A. Ferreira
- Virgílio Baião Carneiro
- Volney Vono
Equipe de bolsistas
- Alexandre Oliveira
- Alisson Flávio Barbieri
- Ana Paula Bossler Costa
- Bernardo Brito
- Cristiane M Lopes
- Cristiane V. Horta
Dorival da Mata-Machado - Eduardo M. de M. e Souza
- Eduardo M. Queirós
- Elizabeth A. B. Seabra
- Fábio A. Nascimento
- Fábio da Cunha Garcia
- Fernanda da Mota
- Thomaz Flávio Godoy Domingues
- Genimar Julião
- João Marcos de Castro Andrade
- Joseane Souza
- Júlio César R. Fortenelle
- Leocádia Aparecida Chaves
- Magno A. Z. Borges
- Maria Margarida G. Marques
- Mariana da Silva e Paula
- Marise da Silva Theresa
- Marise Theresa Silva
- Paula Paixão
- Paula Sestini
- Raquel Araújo
- Renata Octaviano de O. Abdo
- Renata Rabello S. de Melo
- Rosane Augusto I. Vieira
- Simone Araújo
- Valéria Aquino Valéria Kind
- Vanja Abdallah Ferreira Wladmir
- Wanderley Bromberg
Fontes financiadoras
- Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Núcleo de Ciências Ambientais (PADCT/CIAMB)
- Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)
- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
- Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior (Capes)
- Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)
Instituição interveniente
- Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep)
- Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
- Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar)
- Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre (ECMVS)
Atividades desenvolvidas
Um dos objetivos do Projeto foi a formação de recursos humanos e buscou-se atendê-lo não apenas pelas atividades formais de ensino oferecidas pelos cursos de pós-graduação stricto sensu. A integração ensino/pesquisa, a realização de workshops e seminários, o intercâmbio de professores e alunos e os convênios internacionais foram atividades que também buscaram atender à meta de formação de recursos humanos.
Foram desenvolvidas atividades de pós-graduação sobre a questão ambiental, englobando cursos e outras atividades de ensino e pesquisa, que perseguiram a interdisciplinaridade, sem a perda das competências disciplinares específicas. Resultou disso a elaboração de dissertações de mestrado e teses de doutorado no âmbito dos três cursos responsáveis pelo Projeto, sintonizadas com a perspectiva interdisciplinar.
A formação de recursos humanos é, assim, parte do processo maior de desen–volvimento de uma metodologia de análise ambiental, que busca superar a disciplinari-dade na direção da transdisciplinaridade. Tal objetivo foi perseguido pela mobilização de uma ampla gama de atividades integradoras, como cursos, seminários de tese, workshops, seminários nacionais e internacionais etc.
O investimento em material permanente voltado para o ensino — compra de livros relacionados a temas ambientais, assinatura de publicações especializadas, aquisição de softwares e equipamentos computacionais adequados ao ensino e ao armazena-mento de dados da pesquisa — foi outro instrumento relevante para a viabilização do programa de treinamento proposto.
Também importante dentro do objetivo geral de formação de recursos humanos foi o Programa de Educação Ambiental que atingiu, direta ou indiretamente, mais de dez mil pessoas em nove municípios da bacia do Rio Piracicaba.
Como síntese do que foi buscado, pode-se dizer, que o grande objetivo do Programa foi o contribuir para modificar conceitos e práticas no campo das ciências ambientais, superando posturas reducionistas, por meio de efetiva prática interdisciplinar e da busca de visão abrangente e crítica sobre o meio ambiente e as formas concretas de sua apropriação e transformação.
Nesse sentido, foram mobilizados diversos instrumentos materiais e simbólicos visando criar condições para a formação, treinamento e qualificação de recursos humanos a partir de perspectiva interdisciplinar.
Foram usados no âmbito do Programa os seguintes instrumentos de formação: a) cursos de graduação; b) cursos de pós-graduação; c) programas de treinamento; d) seminários e workshops; e) ampliação do acervo bibliográfico; f) ampliação de recursos computacionais; g) programa de Educação Ambiental; h) elaboração de diversos materiais de divulgação não-acadêmicos; i) participação em debates, seminários, conferências, mesas-redondas; j) elaboração de trabalhos aca-dêmicos; l) elaboração de monografias, dissertações e teses.
O programa de formação de recursos humanos do Projeto buscou atuar em diversos níveis no 3º grau, formando mestres, doutores, graduados, atingindo também estudantes e professores de 1º e 2º graus, membros das comunidades, técnicos e funcio-nários de empresas e prefeituras.
Vem a seguir uma súmula das atividades desenvolvidas:
1. Cursos de Graduação
Foram oferecidos entre 1993 e 1995 os seguintes cursos no âmbito da gradu-ação em Economia e Ciências Biológicas no campo das ciências ambientais:
a. Economia – População, Espaço e Meio Ambiente; Economia, Espaço e Meio Ambiente ; Economia e Ecologia; Economia Regional e Urbana.
b. Ciências Biológicas – Introdução à Ecologia; Ecologia e Limnologia; Conservação e Biodiversidade; Ecologia e Recursos Hídricos; Ecologia e Recursos Florísticos.
2. Cursos de Pós-Graduação
População e Meio Ambiente; O Uso das Estatísticas Sócio-econômicas e o Retrato das Condições de Vida e Políticas Sociais no Brasil; Biodiversity and Running Waters; Economia Urbana com Especial Referência à Economia Popular; Concept, Plan-ning and the Implementation of Programs and Centers in the Area of Conservation; Sistemas de Gestão e Planejamento Ambiental.
3. Cursos do Programa de Educação Ambiental
- Cursos de Curta Duração: Lixo; Esgoto Doméstico e Industrial; Garimpo de Ouro;
- Cursos de Longa Duração: Fundamentos da Questão Ambiental; Monitores Ambientais.
4. Programas de treinamento
- Cursos de treinamento em softwares UNIX, ARC-INFO e S;
- Bolsas de Iniciação Científica;
- Bolsas de Aperfeiçoamento Científico.
5. Seminários e Workshops
- Seminários com as grandes empresas que atuam na área de pesquisa de campo do Programa: Usiminas/Acesita/Cenibra/C. S. Belgo-Mineira – 1993/1994/1995;
- Seminários com as Associações de Municípios do Vale do Aço e do Médio Piracicaba, assim como participação em seminários municipais em Antônio Dias, Barão de Cocais e Santa Bárbara;
- Seminários sobre Economia Mineira, realizados pelo Cedeplar em 1992 e 1995, quando os pesquisadores do Programa apresentaram cerca de seis trabalhos e organizaram e expuseram em três mesas-redondas temas referentes ao Programa;
- Seminários internos para elaboração do Projeto, organização do trabalho e apresentação de resultados preliminares do Programa em 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1995;
- Seminário Internacional sobre Biodiversidade realizado em conjunto com a Conservation International (dezembro de 1993);
- Seminário geral do Programa, realizado em Belo Horizonte entre 29 de novembro e 1º de dezembro de 1995.
Como resultados já alcançados pelo Programa no que se refere à produção científica, têm-se: nove monografias de graduação; nove dissertações de mestrado defendidas e quatro em andamento; uma tese de doutorado defendida e uma em andamento; 26 relatórios temáticos que sintetizam as pesquisas; 119 artigos técnico-científicos publicados, entre 1991 e 1996.
Finalmente um balanço do funcionamento do Programa, de seus resultados e desdobramentos, do ponto de vista das questões teórico-científicas é o seguinte:
- consolidação de uma sistemática de atividades interdisciplinares em diversos campos – ensino, pesquisa, seminários, treinamentos, utilização de equipamentos, publicações;
- consolidação de uma temática, de conceitos e métodos analíticos comuns entre biólogos, ecólogos, economistas, demógrafos, historiadores, geógrafos, urbanistas, enfim entre a equipe do Programa;
- consolidação das linhas gerais, testadas empiricamente, de uma metodologia de estudos ambientais a partir de perspectiva interdisciplinar.
Nesse sentido, com limites e deficiências, nosso Programa pode reivindicar ter consolidado grupo de pesquisa, com experiência e qualificação, contando com infra-estrutura material (parque informático, bibliotecas, equipamentos e instalações de apoio) e gerencial de excelência.
Muitos resultados do Programa podem ser avaliados quantitativamente. Contudo, há um conjunto de impactos importantes do Programa sobre mentalidades e posturas, sobre o fazer acadêmico-científico, sobre a consciência ambiental da população, sobre práticas políticas de empresas, do poder público e das comunidades locais, que não podem ser avaliados nem quantitativamente nem a curto prazo. Contudo, é nesse campo, na mudança de conceitos, hábitos, práticas e políticas que o Programa pretende ter contribuído para o enfrentamento da crise ambiental a partir da idéia de desenvolvimento sustentável, biodiversidade e melhoria da qualidade de vida.
Livro (relatório final)
O relatório síntese do projeto foi editado na forma de livro:
PAULA, J. A. (Coord.). Biodiversidade, população e economia: uma região de mata atlântica. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar; ECMVC; PADCT/CIAMB, 1997.
A íntegra deste volume encontra-se disponível abaixo para download. Os arquivos estão em formato “.pdf”. Para visualizar o conteúdo, use o Adobe Acrobat Reader (disponível para download gratuito).
- Capa
- Agradecimentos, índice, apresentação e prefácio
- Capítulo 1 – Dinâmica capitalista, divisão internacional do trabalho e meio ambiente
- Capítulo 2 – A ocupação do território e a devastação da Mata Atlântica
- Capítulo 3 – Ocupação do território e estrutura urbana
- Capítulo 4 – Estrutura econômica regional e meio ambiente
- Capítulo 5 – Fundamentos históricos e metodológicos da questão ambiental
- Capítulo 6 – A bacia hidrográfica como unidade de análise e realidade de integração disciplinar
- Capítulo 7 – Atividades antrópicas e impactos ambientais
- Capítulo 8 – Impactos antrópicos e biodiversidade aquática
- Capítulo 9 – Impactos antrópicos e biodiversidade terrestre
- Figura 9.1 – Cobertura vegetal e uso da terra em 29 municípios da Bacia do Rio Doce
- Capítulo 10 – Sociedade, poder e meio ambiente
- Capítulo 11 – Programa de educação ambiental
- Capítulo 12 – Análise integrada dos resultados
- Capítulo 13 – Propostas de intervenção
- Capítulo 14 – Uma proposta metodológica interdisciplinar